- Chegou a hora de você ir.
- Mas eu tenho medo de voar - respondeu o pássaro.
- Não tenhas medo, pássaro - retruquei - você tem asas para isso.
- Mas eu esqueci como usá-las.
- Não tenhas medo pássaro - insisti - você tem asas para isso.
- E se eu não conseguir? Ah, tenho tanto medo de voar.
Abri a gaiola, peguei-o em minhas mãos e o ergui para o alto. Era fim de tarde e a brisa suavemente fria vinha nos mostrar que o outono realmente já estava por aqui. Olhei para o pássaro e percebi que, se antes tremia, agora admirava o entardecer com um brilho inocente nos olhos, como quem acaba de descobrir uma coisa nova.
- Voa pássaro - disse eu, abrindo a mão esquerda para que ele pudesse abrir vôo.
- Mas eu tenho medo de voar.
- O medo nos faz covardes, pássaro. Você, por ser pássaro, é diferente de todos os outros e possui o que muitos almejam desesperadamente. Não deixe a chance passar por conta do medo.
Ele olhou para mim, olhou para o horizonte e voltou a olhar para mim. Fiz um sinal com a cabeça e abri a mão direita.
- Estou voando, estou voando! - disse o pássaro já no ar.
Sorri de volta e acenei um adeus.
- Voa pássaro, você tem asas para isso.
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